quinta-feira, 13 de maio de 2010
Impressão e Conservação de Fotografias no período digital
Na atual Era Digital, o desafio da conservação é um ponto muito sensível e contraditório. Ao mesmo tempo em que o arquivo, por ser digital, pode ser reproduzido com perfeição, as mídias disponíveis para armazenar o arquivo digital são muito menos longevas, testadas e seguras.
Existe, além do risco da "Morte Súbita" do arquivo digital, é preciso sempre migrar os arquivos para a tecnologia mais recente, evitando que eles fiquem presos em um suporte obsoletoe sem condições de se recuperar a informação, mesmo que a mídia ainda esteja boa.
Então surge aí o primeiro paradoxo: Para manter os arquivos, se fazem necessárias diversas cópias de segurança e --talvez-- uma matriz analógica! Mas então surge uma questão essencial: Que material deve ser mantido?
Deve ser feito uma escolha e curadoria muito cuidadosa sobre quais arquivos se quer fazer a conservação, pois isto irá determinar toda uma geração de mídias e trabalhos que podem ter impacto no nosso bolso e no meio-ambiente. Fotografias que são descartáveis devem ser deletadas porque senão significarão CDs convertidos depois para DVDs copiados posteriormente em Blu-Rays, HDs e LTOs em duplicidade para garantir seu armazenamento seguro... Por isso sua escolha é importante. Basta pensarmos na forma como o arquivo digital é facilmente proliferável: Recebemos diariamente toneladas de e-mails que reencaminhamos para diversos receptores que por sua vez reenviam para outros, e muitas vezes deixam parados na Caixa Postal. São informações que necessitam de backup?
E quanto à fotografia? Ainda mais agora que com a fotografia digital damos muito mais cliques do que antigamente no filme, pois "podemos apagá-las depois". Mas nós as apagamos? E depois, como manter os arquivos? A situação é mais complexa ainda no Cinema, onde massas muito maiores de dados precisam ser manipulados. Mas fiquemos por enquanto na fotografia...
Uma questão abordada no workshop acima é de que já se tem uma base histórica boa para se afirmar com segurança que os pigmentos minerais são mais duradouros do que os corantes. Isso significa que uma fotografia impressa em papel fotográfico colorido convencional dura bem menos do que uma fotografia impressa via impressora jato de tinta em papel de fibra de algodão com pH controlado.
Então, qual deve ser o workflow para a conservação dos arquivos fotográficos digitais?
Segundo Millard Schisler, Coordenador de Preservação da Cinemateca Brasileira e ministrante do Workshop, primeiramente eles preferiram fotografar as fotografias antigas em vez de escaneá-las. Millard sustentou que o escaneamento trazia muitas imperfeições do papel, principalmente de fungos. Optou-se então usar a câmera fotográfica diante da fotografia pressionada em um sanduíche de vidro. O arquivo RAW da câmera então foi convertido primeiramente para DNG, segundo ele, um "RAW" com código mais aberto, menos dependente do controle dos fabricantes de equipamentos. Deste DNG extraiu-se um arquivo TIFF. Este sim é um arquivo aberto que servirá de base para a impressão após os ajustes necessários de cor, escala de cinzas, e sharpening.
Outros assuntos importantes não foram abordados no workshop, e devem ser pesquisados no livro "O Dilema Digital" (ou aqui) e no site http://www.wilhelm-research.com/
Veja o excelente artigo abaixo.
http://www.nytimes.com/2007/12/23/business/media/23steal.html?_r=3&scp=21&sq=&st=nyt
Texto lido durante a reunião do Conselho da Cinemateca Brasileira em 15 de abril de 2010, reproduzido por Carlos Ebert:
Sugestões conceituais para uma reflexão sobre preservação audiovisual.
Gustavo Dahl
1. As imagens que uma civilização produz sobre si mesmo fazem parte de sua identidade concretamente, indo alem da imaterialidade do seu imaginário, da sua própria cultura. As grandes civilizações da Antiguidade subsistem na história por conta das imagens que produziram, tanto como monumentos, obras de arte ou registros. As civilizações que não deixam imagens se perdem no tempo, é como se não tivessem existido.
2. As imagens representam aparências, porém, mais do que isso, representam sentimentos que vão constituir os valores, o ethos dos povos, países, culturas, civilizações. Num momento em que as relações internacionais se estruturam em torno de um confronto de valores, a chamada guerra de civilizações, que opõe por exemplo a democracia ocidental à teocracia islâmica, o patrimônio de imagens de cada país passa a ter dimensão estratégica. É motivo de reflexão que a maior potencia militar da atualidade, os Estados Unidos, sejam também a maior potencia da industria cultural, especialmente na produção audiovisual.
3. A atenção que cada país dá à preservação do seu acervo audiovisual é diretamente proporcional à sua autovalorização. O descaso com que o Brasil, historicamente, trata a preservação de seu acervo cinematográfico e audiovisual exprime a relação conflituosa que mantém com sua identidade. O colonizador, o ocupante dá sempre inicio à sua ação pela destruição das imagens do colonizado. Nada é mais significativo deste fenômeno que o tiro de canhão lançado por Napoleão na cara da esfinge de Quéops, mutilando-a para sempre. As imagens de um povo são seu avatar, seu duplo. Não preservá-las é corresponder ao sentimento de desvalorização da cultura autóctone de cada povo, que o colonizador quer sempre impor para desmoralizar e destruir. É uma desconstrução voluntária a serviço do ocupante.
4. O Império, os impérios atuais, não disputam mais os territórios físicos. As tecnologias de informática e comunicação terminaram por constituir um território virtual, o éter onde se hospedam os satélites e em que são transmitidas as ondas eletromagnéticas e que se superpõe à crosta terrestre. É nele que se dá a guerra virtual, a nova pirataria. Os conteúdos que circulam pela internet e por meio de satélites se propagam pela atmosfera é que são o armamento das grandes potências. Em um momento que os conteúdos já existentes tem a capacidade de gerar novos conteúdos, transformando-se inclusive num ativo econômico, sua preservação, sistematização e armazenamento é um fator estratégico. A preservação é o último elo da cadeia econômica audiovisual, mas é também um arsenal psicossocial.
5. Basta constatar a importância que adquiriram as imagens cinematográficas registradas no início e meados do século XX, para imaginar que daqui a cem anos, as imagens dos jornais quotidianos da televisão deverão ter importância semelhante. Quanto às obras de ficção, freqüentemente na história da arte se processam resgates e obras primas cujo alcance se perde temporariamente. Artistas do porte dos pintores Vermeer e Caravaggio passaram por momentos de ostracismo em seu reconhecimento. A necessidade de preservar a produção artística ou de entretenimento cinematográfica garantem esta possibilidade de releituras futuras. Sem falar em obras que já são consideradas clássicas, mas que mesmo assim se vem ameaçadas na integridade e sobrevivência de suas matrizes. Há uma semelhança entre a preservação que mira o futuro tanto do meio ambiente quanto da produção simbólica.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
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